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A outra metade da Laranja Mecânica

O Ajax de Cruijff é ainda hoje a epítome da era dourada do futebol total no início dos anos 1970. No entanto, não foram os Ajacied os primeiros reis europeus vindos dos Países Baixos. Durante a década de 1960, os pioneiros a reinarem no futebol continental não foram outros que os históricos rivais de Roterdã.

Os primeiros holandeses a reinar na Europa

No dia 6 de maio de 1970, uma invasão de adeptos escoceses a Milão parecia pressagiar a repetição da final de três anos antes em Lisboa. O Celtic, campeão europeu em 1967, depois de um triunfo histórico frente ao Inter de Herrera, voltava a uma final europeia e era, para todos, o favorito para vencer o derradeiro encontro da competição de clubes mais importante do mundo. Nem os envolvidos se incomodavam em disfarçar o favoritismo. O sempre tranquilo Jock Stein, técnico dos verdes católicos de Glasgow, deixou claro à imprensa, dias antes, que sentia-se imensamente superior a um rival que vinha sem pedigree e de um país sem grande tradição futebolística. No entanto, se, por um lado, esta era a segunda final dos escoceses em três anos, por outro, era a segunda de holandeses em dois anos consecutivos.

Um ano antes, em Madri, o AC Milan conquistara o seu segundo título de forma clara, com uma goleada, sem contestação, sobre o Ajax de Amsterdã. Dessa vez, era a chance do seu eterno rival doméstico, o Feyenoord, de Roterdã, ser colocado à prova numa noite europeia inesquecível. Os neerlandeses eram quase anônimos para a maioria dos adeptos europeus. Se Cruijff era um nome já reconhecido, com reverência, e se o Celtic tinha o endiabrado Jimmy Johnstone, o “Best de Glasgow”, não havia uma só estrela digna desse nome no time dos Países Baixos. Não precisava. A sua formação era a mais unida e coletiva da Holanda, a variante mais pragmática e estóica do futebol total, que gravitava ao redor da ideia de um treinador austríaco, capitaneada por um general a quem nunca faltava voz de comando. Ambos foram determinantes nessa noite mítica.

Os revolucionários de Amsterdã contra os operários de Roterdã

Durante muitas décadas os triunfos consecutivos do Ajax na Taça dos Clubes Campeões Europeus – entre 1971 e 1973 –, além do vice-campeonato em 1969, reduziram qualquer outro clube holandês ao esquecimento. Se a máquina de Michels atingiu, seguramente, momentos de perfeição máxima, e se a genialidade de Cruijff e companhia foi, sem dúvida, única, o certo é que não foi o Ajax a primeira grande equipa holandesa a passear pela Europa do futebol nem sequer a primeira a levantar o cobiçado título continental. Essa honra, em ambos os casos, pertence ao seu eterno rival de Roterdã.

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Jornalista e escritor. Autor dos livros “NOITE EUROPÉIAS”, “SONHOS DOURADOS”, “SUEÑOS DE LA EURO” e “JOHA: A ANATOMIA DE UM GÊNIO”. Futebol e Política têm tudo a ver, basta conectar os pontos. O coração de menino ficou no minuto 93 da final de Barcelona. Estudou comunicação na Universidade do Porto e morou mais de uma década em Madri.