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Um país dentro de um país, com nostalgia de um país que já não existe. Assim é a vida na Transnístria, um país digno das aventuras do repórter Tintin perdido numa fronteira geográfica que o tempo já esqueceu. República fictícia — mas com vida própria — , esse estado comunista, pró-soviético, que resiste mesmo depois de já quase trinta anos da queda do muro de Berlim, é conhecido no mundo graças apenas aos êxitos daquele que é também o seu maior símbolo: o Sheriff Tiraspol.
No desmembrar da velha União Soviética, foram nascendo à volta da velha Rússia czarista várias repúblicas, algumas delas que nunca tinham tido sequer história própria no passado, como a Bielorrússia. Numa delas, a Moldávia, um antigo condado mais ligado aos vizinhos romenos do que propriamente ao gigante russo, há uma fronteira alternativa que não se encontra nos mapas políticos oficiais. Uma máquina do tempo única que nos leva trinta anos atrás, aos dias do velho império soviético e de cabeça dentro da República da Transnístria, um estado fantasma e quase literário. Pelas ruas de Tiraspol, a capital deste auto-proclamado país que ninguém reconhece, tudo gira em torno da velha nostalgia soviética. Há estátuas e bustos de Marx, Lenin e Stalin; bandeiras com o velho distintivo da foice e do martelo e, entre a população, parecemos reconhecer os rostos de tantas e tantas cassetes velhas desses dias em preto e branco; os proletários e camponeses a quem se prometeu um mundo melhor com base na revolução e que hoje continuam ainda presos a velhos costumes. O tempo parou nesta tira de terra no leste europeu e ninguém pareceu dar-se conta. A Moldávia, ela própria um território cobiçado historicamente por ucranianos e romenos, não consegue impor ali a sua lei. O auto-proclamado país tem fronteiras que defende militarmente, controle fronteiriço que obriga os visitantes a viajar sob aperto, com hora de saída marcada, e uma moeda própria. Nada disto seria sequer conhecido no resto do mundo se não fosse pelo futebol. O milagre da existência da Transnístria só se tornou popular quando o seu único clube, o Sheriff Tiraspol, apareceu na alta roda do futebol europeu. Em poucas ocasiões a união emocional entre o futebol e a defesa de uma noção de pátria fez tanto sentido.
O clube foi fundado em 1997 por um antigo agente do KGB, então transformado em empresário de segurança privada. Historicamente, é um caso de estudo curioso: joga defendendo as cores de um país que não existe, dominando a liga de um país que não reconhece. A Moldávia e a Transnístria não se reconhecem politicamente, mas há uma forma ortodoxa de sobreviverem lado a lado. Uma delas é a presença do Sheriff na liga moldava de futebol. O clube começou a sua aventura em 1998, na segunda divisão, mas é desde 2001 que sua hegemonia sobre o futebol do país é total, criando um vazio emocional tremendo. Os clubes restantes e adeptos moldavos têm de suportar como um grupo abertamente separatista os humilha ano após ano. Em 1999, o Sheriff — o nome vem da empresa de segurança do seu fundador, Viktor Gusan, que hoje controla quase toda a atividade econômica da república da Transnístria — venceu a taça do país pela primeira vez. O que parecia ser uma anedota tornou-se um pesadelo dois anos depois, quando a equipe conquistou o primeiro título de campeão nacional moldavo. Foi o primeiro de dez títulos conquistados de forma consecutiva, até que o FC Dacia Chișinău interrompeu uma série que foi, entretanto, reiniciada sem contestação.
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Jornalista e escritor. Autor dos livros “Noites Europeias”, “Sonhos Dourados” e “Toni Kroos: El Maestro Invisible”, “Sueños de la Euro” e “Johan: a anatomia de um gênio” Futebol e Política têm tudo a ver, basta conectar os pontos. O coração de menino ficou no minuto 93 da final de Barcelona. Estudou comunicação na Universidade do Porto.
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