Nenhum produto no carrinho.
As multidões que tomaram as ruas e as praças do Egito surpreenderam o mundo em janeiro de 2011. Dezenas de milhares de pessoas afirmavam que o povo queria a queda do regime duradouro de Hosni Mubarak, no que foi o ápice da série de manifestações pela região: a “Primavera Árabe”. No meio da massa de descontentes, alguns elementos eram ainda mais distintos: bandeiras, sinalizadores, cantos e coreografias dos torcedores dos dois maiores clubes de futebol do país: Al Ahly e Zamalek. Torcedores eram boa parte do povo que desafiava o governo, mas era difícil precisar a importância deles naquele movimento revolucionário. Um ano depois, foram os próprios remanescentes da velha ordem ainda no poder que confirmaram a dimensão da participação torcedora. No Estádio de Port Said, cobrou-se o preço das torcidas organizadas pelo envolvimento político com a morte de 74 pessoas e milhares de feridos, no que permanece sendo a maior tragédia envolvendo o futebol no século XXI.
As torcidas se organizaram no Egito em meados da década de 1990, substituindo as torcidas oficiais, vinculadas e domesticadas pelas diretorias dos clubes. Essas novas organizadas eram independentes e contestavam as decisões de cartolas e da Federação. A partir dos anos 2000, surgem no país os Ultras, seguindo a organização das torcidas italianas, modelo que se espalhava no período também pelos países mediterrâneos como Argélia, Marrocos, Turquia, Líbano, Líbia, Sérvia e Grécia. A popularização da internet e das transmissões de campeonatos via satélite foram fundamentais na disseminação e na organização dessa cultura torcedora. Em 2007, foi fundada a Ultras Ahlawy, a maior organizada do time mais popular e vencedor do país, o Al Ahly. O exemplo foi seguido pelos torcedores dos outros grandes do país: Zamalek, Ismaly e Al Masry.
Nas arquibancadas dos estádios egípcios, os ultras seguiam a cartilha consagrada da cultura torcedora: festa colorida e incessante, com bandeiras, faixas, sinalizadores e cânticos, formando um bloco coeso e impactante atrás dos gols a cada partida. A intensidade da festa desafiava as regulamentações impostas pela federação e pelo governo, que, como em tantas outras partes do mundo, lançava as forças de segurança contra os torcedores. Nestes confrontos, os mesmos desenvolveram técnicas de resistência e combate. Gritos, cânticos e faixas passaram a denunciar o governo de Hosni Mubarak, tornando o estádio de futebol um dos poucos lugares onde essa crítica era possível.
Faça login ou crie uma conta abaixo.
Criando uma conta, você tem acesso GRATUITO e ILIMITADO a todos os textos da Corner.
A face colonialista e os valores da Revolução Francesa plasmados no futebol De forma inédita, os políticos do segundo turno ... (Continue lendo)
Durante os anos 1990, a grande alternativa à hegemonia de Real Madrid e Barcelona surgiu na Galícia Bebeto, Djukić, Fran, ... (Continue lendo)
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |
1 Comment
rabello.rachel
Muito interessante conhecer um pouco da história do Egito por meio do futebol. Faz todo sentido que as arquibancadas sejam um espaço de libertação e revolução. Arrepiante. Parabéns pelo texto, Luã!