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Editorial

Na primeira metade do século XIX, a América do Sul foi inundada pela onda emancipacionista em relação às metrópoles ibéricas, o que definiu a geografia política do continente como se conhece hoje. Em 1810, o Chile seria o primeiro a bradar independência, e o Uruguai fecharia o ciclo em 1828.

O fim da Guerra Cisplatina libertou o paisito do domínio brasileiro com a ajuda da mesma Argentina com quem brigara muito tempo para não ser anexado. Pudera, as semelhanças entre bonaerenses e montevideanos eram muitas. Como bem disse Diego Lugano, sempre foram “la misma mierda con diferente hedor”.

De pouco em pouco, a ex-Banda Oriental — já República Oriental del Uruguay — se distanciava da imagem de província do Vice-Reinado do Prata com o auxílio de personagens icônicos essenciais na afirmação da autonomia uruguaia: José Artigas, Fructuoso Rivera, Juan Lavalleja, Manuel Oribe, mas também José Leandro Andrade [A Maravilha Negra], Héctor Scarone, Enrique Ballesteros, Juan Alberto Schiaffino, Obdulio Varela, Alcides Ghiggia.

Educação universal, jornada de trabalho de oito horas, voto feminino, Estado laico. O Uruguai das primeiras décadas do século XX já mostrava sua veia progressista — diferentemente dos vizinhos de continente —, com medidas que precederam a legalização do aborto, da maconha e a Lei Trans. Fadada a ser a primeira em quase tudo, a outrora “Suíça da América” foi também a responsável pelo progresso do futebol e da sua maior entidade.

No Centenário da primeira Constituição, o Uruguai deu de presente a Jules Rimet a primeira Copa do Mundo e, por conseguinte, promulgou a independência da FIFA. Mais tarde ela se tornaria o organismo esportivo mais poderoso do planeta e, por vezes, mais influente que as nações as quais representa.

Assim como fez Benito Musolini em 1934, também buscando, na recém criada Copa do Mundo, mais prestígio para sua Itália fascista. O ditador entendeu o poder do esporte sobre as massas e a importância de uma liga forte e, principalmente, unida, como nunca antes o país havia sido. Com uma mãozinha do Estado, a Serie A reuniu as maiores estrelas do jogo para conquistar o posto de principal campeonato do planeta em diversas oportunidades. Agora, ela torce para que a chegada de CR7 repita o que aconteceu quando Ronaldo, Adriano, Zidane, Platini, Maradona, Zico, Falcão, Sócrates e outros do mesmo quilate por ali estiveram.

Craques que Claudio Carsughi acompanhou à distância desde que se mudou para o Brasil depois do fim da Segunda Guerra Mundial, quando virou um “jornalista brasileiro”, ainda que cidadão italiano. Tão italiano quanto os antepassados de Lugano, que estampa esta capa e aponta os culpados pelos tempos sombrios vividos pelo futebol uruguaio.

A Corner #8 te convida a mais uma viagem a bordo do futebol, do jeito que sempre fez. Só que agora com um novo condutor. A revista, como jornalismo independente, busca novos roteiros a oferecer, mas a empreitada só se sustenta quando o caminho proposto é percorrido pelo leitor.

Embarca nessa?

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Jornalista graduado pela FACHA. Gaúcho que vive no Rio (mais um). “Goleira” é o conjunto de traves, “gol” é quando a bola entra. Tem uma queda pelo futebol cantado em castelhano e geralmente joga melhor quando ninguém está vendo. Amante de futebol, música, história, cinema, fotografia e apaixonado pelo jornalismo. Do pescoço pra baixo, tudo é canela.

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