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Editorial

Uma cidade pesada. Metrôs que levam passageiros em altíssima velocidade de uma estação à outra. Uma mais bela que a outra na região central de Moscou. Uma viagem que tinha um só objetivo: assistir ao derby moscovita Lokomotiv versus Spartak. Mas a cidade causou um impacto muito maior do que o jogo. Era primavera, os dias já eram longos, e as temperaturas oscilavam entre -15.C e 25.C no mesmo dia. Amanhecia com sol e, junto com a noite, chegava uma tormenta de neve.

Moscou representa, nitidamente, uma estrutura proporcional ao território desta cidade que é, ou foi, a capital. Império Russo, União Soviética e Rússia. Um território que chegou perto de ser um quarto do mundo. Já no século XXI, a capital do maior país do mundo contrasta um passado de glórias inglórias e um futuro promissor e desalentador onde está um presente duvidoso e rígido. As várias etnias que compõem a Federação Russa e os resquícios da URSS, as belezas arquitetônicas. Moscou é especial.

Durante o período soviético, o futebol foi ferramenta de propaganda, mas também de manifestações nacionalistas ou políticas. Um regime autoritário que promoveu genocídios, mas que garantia o essencial para qualquer cidadão. Era a oposição do que o “Ocidente” oferecia, uma liberdade para pensar, para ir e vir, mas para morrer de fome ou doença.

O “Ocidente” também financiou ditaduras. O mercado e as grande empresas estiveram ao lado de regimes militares que promoveram golpes em toda a América Latina. Enquanto Deus abençoava a América — do Norte —, ao mesmo tempo, abençoava os torturados, seqüestrados e assassinados no restante do continente.

Uma ilha no Caribe ilustrava bem aquele War da vida real. Cercada por um mar espetacular, tinha mísseis e satélites voltados para si. Cuba estava logo ali dos Estados Unidos e era uma base avançada do regime soviético. Uma resistência, sem dúvida, a um sistema perverso, mas que era igualmente perverso com os opositores. Ali já não havia santos.

A Revolução de Cuba inspirou brasileiros e, no futebol, aqueles mais rebeldes ou que se propunham a pensar que esse esporte era uma manifestação cultural e, portanto, também política, usaram o campo e a bola como plataformas para expôr suas idéias. Fossem por um cabelo grande ou por declarações, por toques de calcanhar ou comícios.

Primeiro surgiu Afonsinho, junto com Paulo Cézar Caju e Ney Conceição. Mas ali faltou algo. A rebeldia não foi suficiente. Eram outros tempos, o chumbo era mais grosso. Depois veio Reinaldo e, em plena Copa de 1978, veio um recado muito bem dado por um general. Depois vieram outros três personagens com a bola nos pés, mas que tiveram o que os guerrilheiros anteriores não tiveram: mídia. Afonsinho até teve o apoio de jornalistas como José Trajano, mas mídia engloba publicidade, e aquilo que ficou conhecido como a Democracia Corinthiana teve um publicitário envolvido. Ele mesmo, Washington Olivetto, e também dispôs do editor da principal revista de futebol do país, que cumpria o papel de um grande portal da época: Juca Kfouri.

Era um momento de abertura política, um período ainda cinzento, mas cada vez menos turvo, em que expressar-se livremente deixava de ser um sonho e começava a ganhar formas de realidade. Sócrates deixou o país, pois as Diretas Já não foram aprovadas como muitos sonhavam e ele, um jovem de classe média do interior paulista, que chegou à capital onde se infiltrou em um contexto que o transformou num ícone dessa transversal relação entre futebol e política. E pra falar de Sócrates, Andrew Downie, biógrafo dele, contou um pouco sobre o livro, sobre Brasil e sobre seu país natal: a Escócia. Bem vindo à Corner #7.

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Jornalista, publicitário e fotógrafo. Estudou comunicação social na Universidad Nacional de La Plata. Para Martinho, não existe golaço de falta (nem aquele do Roberto Carlos em 1997 contra a França ou de Petković em 2001 contra o Vasco). Aos 11 anos, deixou o cabelo crescer por causa do Maldini. Boicota o acordo ortográfico.

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