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Istambul: onde o mundo se cruza. Não é preciso ler a respeito e muito menos ter um guia turístico. Chegando pelo aeroporto Atatürk, que fica no lado ocidental da cidade, já é o primeiro contato com esse nome que permeia quase tudo por lá. Depois, ainda dentro do aeroporto, se embarca no metrô e vai até Zeytinburnu İstasyonu, onde se faz a baldeação para o tram — bonde, vai — e dali, vai em direção ao ”centro“ de Istambul, sentido Kabataş. Pra quem estava à deriva, esperando uma conexão noturna para Moscou, o passeio de “bonde” era bem convidativo. Uma imersão pelas ruas da cidade milenar.
Nesse trajeto, uma cidade tomada por cartazes de campanha política das eleições locais de 2014 que, mais tarde, se soube: terminou de maneira bem controversa. E culminou com Erdoğan, até então primeiro ministro, sendo eleito presidente. A cada rua, mais faixas e cartazes. O transporte público caótico onde tram, carros e ônibus duelavam por espaço em ruas e avenidas que se alargavam e se estreitavam de repente. Pedestres aos montes, pra lá e pra cá, atravessavam onde bem entendiam.
De repente, depois de quase uma hora no tram, um clima de “chegou”. Deu para ver umas torres imensas de mesquitas enormes. O bonde seguiria até Kabataş — sabe-se lá onde é isso — ali parecia ser bem central. Início da primavera de 2014, era melhor descer ali e dar uma volta. Sultanahmet era o nome da parada. Um híbrido de intuição com inércia, já que muita gente descia ali.
Não era pra menos, tratava-se de um local muito freqüentado, mas já dava para perceber nos restaurantes e bares à beira da calçada alguns quadros escritos em inglês. Do outro lado, sim, as mesquitas eram justamente a Hagia Sofia e a Mesquita Azul. Impressionantes.
Restavam algumas horas até retornar ao aeroporto, dava para perambular por ali. Sem nenhuma pretensão, tentar comer alguma coisa mais tarde. Nessa, uma viela à direita, outra à esquerda, vários comerciantes com seus produtos avançando pela calçada, de roupas, calçados, tecidos, até eletrônicos. De repente, uma dessas vielas acabava numa porta alta. Saía e entrava tanta gente que entrar era um movimento óbvio.
Sem saber onde e o que era aquilo, olhando pra um lado e pro outro, dava pra sentir algo familiar, mas daquelas coisas que se vê na TV ou em filme. Tecido, tapetes, jóias, roupa, tudo em corredores com pé direito alto, tetos curvos, uma arquitetura bem antiga. Deu pra se perder ali, entre um corredor e outro, uma lojinha ou outra de artigos de futebol, preponderantemente de camisas e de cachecóis. Já eram tempos de um futebol mais que globalizado. Havia mais camisas e cachecóis de Barcelona, Real Madrid ou Chelsea do que de Fenerbahçe, Galatasaray ou Beşiktaş.
Parando numa dessas lojinhas e suas bancadas, se aproxima o atendente prontamente. Ao perguntar pelo preço, veio algo qualquer, que não dava pra saber se era muito ou pouco. Em um inglês muito carregado, o atendente explica que era em liras turcas. Mesmo assim, ainda não dava pra saber. O atendente deve ter percebido mais um “turista” pra dar aquela facada. Ele oferece um desconto, coisa meio absurda, de quase metade do preço inicial, pra dois ou três itens, mas ali a idéia era só dar uma olhada mesmo. O comerciante tentou fazer outra oferta, mas não teve sucesso. Mesmo explicando que na volta talvez desse para comprar, ele se ofendeu e falou qualquer coisa em turco, certamente um xingamento.
Um detalhe: nada ali tinha preço, em etiquetas ou cartazes. Voltando à imersão histórica, aquele lugar era exatamente o Grand Bazaar, e aquilo ali não existia há tanto tempo à toa. A cidade está numa localização em que o mundo se cruza. Quem vinha da Ásia para a Europa, do Oriente Médio para o norte da Eurásia, ou até mesmo em direção à África, por ali teria que passar. Um entreposto de abastecimento por definição. Um local estratégico, nada mais natural existir o Grand Bazzar, como existe desde meados de 1400.
Na saída, já anoitecia, uma enorme multidão caminhava em torno do mercado. Eis que começa um cântico, que no início pareciam sirenes, em alto falantes espalhados por ali, no alto dos postes. Rapidamente deu para perceber que era uma oração, certamente em árabe. Alguns paravam e se debruçavam sobre tapetes sem seus sapatos, logo ao lado, e faziam seu ritual religioso em alguns cantos.
Na recepção do albergue, um quadro com uma citação ao lado de uma foto do autor; era ele, Mustafa Kemal Atatürk, que dava nome ao aeroporto. O curioso era que a frase dizia algo sobre liberdade e soberania. O pai dos turcos defendia valores muito avançados para a sua época, tão avançados que, em pleno 2014, algumas ferramentas e redes sociais, como Twitter ou YouTube, eram bloqueadas.
Grande líder político da Turquia, deixou um legado enorme, mas o país se enroscava em controvérsias quanto às liberdades individuais e direitos humanos, quase um século depois da independência do Império Otomano, durante a Primeira Guerra Mundial. Eram os tempos de Erdoğan, um novo líder político, sem dúvidas. Alex De Souza, como é conhecido na Turquia, entrevistado — e capa — da Corner #5, conheceu de perto Erdoğan. Colin Kâzım-Richards, que jogou tanto no Galatasaray quanto no Fenerbahçe, não quis falar sobre Erdoğan. Marcos Uchôa conhece bem a região, esteve na Síria logo antes da entrevista e, além de Turquia, também abordou o jornalismo em tempos de redes sociais, guerras e, claro, futebol. Assim segue a Corner, usando o futebol como desculpa para falar de tudo. É o futebol entrelinhas.
Jornalista, publicitário e fotógrafo. Estudou comunicação social na Universidad Nacional de La Plata. Para Martinho, não existe golaço de falta (nem aquele do Roberto Carlos em 1997 contra a França ou de Petković em 2001 contra o Vasco). Aos 11 anos, deixou o cabelo crescer por causa do Maldini. Boicota o acordo ortográfico.
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