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Desunião Soviética

O futebol como fator de desintegração da URSS

Durante os seus mais de sessenta anos de vida, a União Soviética funcionou como uma amálgama de estados e povos que orbitavam o povo russo e da liderança do Komintern [Internacional Comunista] em Moscou. Poucos elementos serviam para unir todas essas nações na realidade e um deles, inevitavelmente, foi o futebol. Mas se o jogo importado das Ilhas Britânicas serviu de elemento de união, não é menos verdade que, ao mesmo tempo, foi exibido regularmente como bandeira nacionalista de cada uma das repúblicas soviéticas que davam forma ao esqueleto que era a URSS.

Ao longo da história da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o futebol foi um elemento nuclear de afirmação. Foi um dos elementos de desbloqueio quando o país era ainda ostracizado por todo o resto das grandes potências mundiais devido ao seu regime comunista e foi também uma das armas de aproximação diplomática no pós-Segunda Guerra Mundial, sobretudo graças às excursões de alguns dos seus clubes — com o Dínamo de Moscou à cabeça — pela Europa em sinal de paz.

Para o exterior, no entanto, a imagem que se passava de união escondia outra realidade no quotidiano. Na verdade, aqueles que viviam do “outro lado do muro” pensavam na União Soviética e lembravam-se sobretudo dos grandes clubes da capital russa [Spartak, CSKA, Dínamo, Torpedo, Lokomotiv] ou do Dynamo de Kiev. Em alguns casos, muito pontuais, podiam recordar o Zenit Leningrado [que passou a se chamar São Petersburgo] ou até o Dínamo de Tbilisi, mas esse era o cenário habitual. A realidade era muito diferente. Sim, os grandes de Moscou e o gigante ucraniano dominaram a seu prazer as duas competições nacionais durante os quarenta anos do pós-Segunda Guerra Mundial até a queda do Muro de Berlim. No entanto, de vez em quando vários clubes muito mais modestos souberam afirmar-se no panorama soviético e a sua ascensão — e também o seu declínio — não foi fruto do acaso. No fundo, eles serviam como bandeiras de causas, causas nacionalistas dentro do próprio esquema de repúblicas comunistas que lutavam por afirmar-se no complexo puzzle do poder da União Soviética.

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Jornalista e escritor. Autor dos livros “Noites Europeias”, “Sonhos Dourados” e “Toni Kroos: El Maestro Invisible”, “Sueños de la Euro” e “Johan: a anatomia de um gênio” Futebol e Política têm tudo a ver, basta conectar os pontos. O coração de menino ficou no minuto 93 da final de Barcelona. Estudou comunicação na Universidade do Porto.

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