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Num pequeno paraíso na costa mediterrânica, o futebol italiano mudou para todo o sempre. O que era, até então, um desporto ainda profundamente influenciado pela sua herança britânica, converteu-se numa das mais poderosas armas do recém consagrado regime fascista. Benito Mussolini fez do calcio uma das suas principais bandeiras de propaganda, antecipando numa década o que acabaria por acontecer um pouco por toda a Europa do futebol: uma profissionalização séria e orientada exclusivamente para a alta competição. Em Viareggio, comuna da região da Toscana, o futebol vestiu a camisa negra do fascismo e assentou as bases da Serie A.
Em 1920, Viareggio viveu a primeira morte do futebol italiano, quando, no final de um tenso derby entre os locais e os rivais de Lucca, um adepto assassinou com um tiro de espingarda o árbitro do jogo. A cidade ainda não o sabia, mas a importância que teria na história do futebol italiano começou a forjar-se nesse dia e encerrou-se seis anos depois, simbolicamente, com a visão oposta a esse caos emocional. Uma visão de ordem e progresso debaixo da influência política e emocional do fascismo. Mas para chegar a esse verão de 1926 é fundamental viajar até um ano antes, em Milão, numa história cujos protagonistas principais vinham de Bolonha, cidade historicamente ligada à extrema esquerda politicamente, mas que — ironia das ironias — contava com um clube cujo principal apoiador era igualmente um dos pesos pesados do Partido Fascista. Os eventos aconteceram na final do campeonato da zona norte entre o Rossoblu [Bologna] e o Genoa, um jogo que entrou para a história por distintos motivos. O conjunto genovês era a máxima referência do calcio, o clube com mais títulos nacionais até então, quando o campeonato era disputado apenas por equipes do norte que só tinham de bater as débeis equipes do sul num jogo final para formalizar a sua evidente superioridade, até porque ao sul da Toscana o futebol era um fenômeno ainda incipiente e tudo se decidia habitualmente entre os grandes clubes da Lombardia, da Savoia, da Ligúria e da Reggio-Emilia.
Aos nove scudettos conquistados até então, os genoveses queriam juntar a décima coroa, mas em frente estava um emergente Bologna, clube com pouca história, mas uma grande equipe que contava com um apoio impressionante de uma das grandes figuras do Partido Fascista, Leandro Arpinati. Alto, atlético, filho de uma ativista socialista e com uma juventude marcada por várias aventuras anarquistas, Arpinati e Mussolini eram amigos desde jovens e juntos ajudaram a montar o Partido Fascista. Durante 25 anos, foi um dos seus grandes dirigentes e, tal como “Il Duce”, um daqueles que melhor percebeu a importância do esporte dentro da ideologia do regime. A sua paixão pelo Bologna era lendária e, além de apoiar o clube desde as arquibancadas, Arpinati teve também papéis administrativos dentro da entidade. Até aquela tarde de sete de junho na capital lombarda, quando a sua sombra ganhou outros contornos.
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Jornalista e escritor. Autor dos livros “Noites Europeias”, “Sonhos Dourados” e “Toni Kroos: El Maestro Invisible”, “Sueños de la Euro” e “Johan: a anatomia de um gênio” Futebol e Política têm tudo a ver, basta conectar os pontos. O coração de menino ficou no minuto 93 da final de Barcelona. Estudou comunicação na Universidade do Porto.
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