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Breslau Elf

Antes da inesperada conquista da Copa de 1954, o futebol alemão parecia ter poucos motivos para estar orgulhoso. Mas a verdade é que, provavelmente, a mais brilhante das suas seleções tenha tido uma breve — porém, triunfal — existência antes de a megalomaníaca política do regime nazi tenha jogado por terra a chance de conquistar o Mundial de 1938.

Uma cidade de dois nomes e um sonho perdido

Wrocław é uma cidade com memória. Foi repartida a bel-prazer entre as grandes potências da região por vários séculos. Hoje, é uma das mais belas urbes da Polônia moderna. Nos anos 1930, pertencia à Alemanha, reflexo da velha herança prussiana. O nome era outro. Breslau, como lhe chamavam os alemães. Lá, em 16 de maio de 1937, subiu ao gramado do estádio local aquela que foi talvez a melhor seleção de todos os tempos do futebol germânico. Maior que a do “Milagre de Berna”, maior que a seleção dos títulos mundiais de 1974, 1990 e 2014? Para o folclore futebolístico alemão, não há comparação. Foi em Breslau que a “Mannschaft” nasceu verdadeiramente. Um ano depois, quando a Alemanha se deslocou até Paris para disputar o Mundial, pouco restava desse sonho. A política tinha abortado a possibilidade dos alemães vencerem a sua primeiro Copa do Mundo.

O fantasma de Breslau foi impossível de esquecer. Para acomodar os sonhos políticos da elite nazi, que sonhava com um “Anschluss” em todos os aspectos da sociedade alemã, o combinado nacional foi obrigado a misturar jogadores alemães e austríacos. A inimizade entre os jogadores dos dois países era conhecida e o modelo foi um tremendo fracasso. Grandes jogadores alemães foram vetados para abrir espaço para grandes atletas austríacos que não queriam estar lá. E no espaço de meio ano, um genuíno candidato a interromper a hegemonia italiana transformou-se numa farsa de equipe, eliminada na primeira fase por uma formação muito inferior no panorama internacional. Tudo isso poderia querer indicar que realmente os alemães não eram tão bons como podiam pensar, mas Breslau estava lá, e sempre esteve, na memória dos que sabiam que tudo podia ter sido diferente.

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Jornalista e escritor. Autor dos livros “NOITE EUROPÉIAS”, “SONHOS DOURADOS”, “SUEÑOS DE LA EURO” e “JOHA: A ANATOMIA DE UM GÊNIO”. Futebol e Política têm tudo a ver, basta conectar os pontos. O coração de menino ficou no minuto 93 da final de Barcelona. Estudou comunicação na Universidade do Porto e morou mais de uma década em Madri.