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A mulher no futebol

Construímos uma sociedade dentro da qual mulher não joga bola e homem não chora.

Dentro desses limites que aceitamos como naturais existimos como versões encaixotadas do que poderíamos ser.

Menina de rosa, menino de azul.

Menina com a boneca, menino com a bola.

Menina pode ser sensível, menino precisa ser valente.

A partir da década de 1970, com o amplo domínio das relações capitalistas pelo mundo, com o incentivo à competição em detrimento de qualquer organização social comunitária ou colaborativa, o futebol se adaptou.

O jogo foi atualizado com todos os valores atribuídos ao masculino enquanto ao mesmo tempo negava qualquer característica do feminino.

Defesas impenetráveis, o drible como ofensa, repúdio total à vulnerabilidade que equipes orientadas para atacar podem gerar.

A estrutura machista e patriarcal que organiza nossas formas de vida organiza também o jogo mais popular do planeta.

Mas tudo pode ser desconstruído desde que entendamos os recados que estão sendo dados.

O jogo, assim como o planeta, precisa do feminino.

Perceber que nossa beleza é indissociável de nossa vulnerabilidade.

Perceber que vencer é maravilhoso, mas perder é importante porque forma caráter.

Perceber que a música que embala uma troca de passes bem executada é mais afinada do que aquela que embala a vitória injusta.

Perceber que o futebol — assim como a vida — é feito de dias bons e de dias ruins, de conquistas e de fracassos, de erros e de acertos, de amor e de dor.

Perceber que o choro que choramos juntos é aquele que vai mudar o mundo.

A sociedade e o futebol não podem mais existir sem o feminino disseminado por todas as suas entranhas, frestas, células.

Não há futuro sem que nos deixemos ocupar pela imensa beleza da vulnerabilidade, do pranto, da tristeza.

Não há futuro sem que nos permitamos atravessar pela enormidade que é existir: dúvidas, medos, incertezas, erros, tropeços, sombras.

É essa a consciência que nos conecta, que nos convulsiona e nos transforma. 

O futebol precisa do feminino muito mais do que nós, mulheres, precisamos do futebol.

Então baixem suas guardas, desconstruam-se de suas crenças limitantes e saiam da frente porque nós estamos invadindo essa praia.

Nos campos, nos bancos, nas arquibancadas, nas administrações, nos estúdios.

Em nome de um jogo mais bonito, mais sensível, mais vulnerável; menos bruto, menos violento, menos objetificado.

O jogo enquanto poesia e não embalado como mercadoria.

Em nome de um futuro no qual o futebol seja entendido como arte e emoção mais do que como negócio e competição.

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